Teologia tupiniquim do carnaval
E deus calou a voz do berimbau pra ouvir o gemido da cuíca, e bateu, com as luvas de pelica, nos costados do ente infernal. E demo, que era o dono do jornal, fez publicar, na página de rosto, que apesar de estar do lado oposto tá de bem com o pai celestial. E deus, que tá além do bem, do mal... desceu do céu em plena terça-feira, com sua longa e vasta cabeleira e ofertou, pra demo, o seu aval. Assim nasceu o bloco, tal e qual... a marchinha, o frevo, o samba enredo... o tamborim, a arma de brinquedo... os foliões e o drama social. O demo empregou seu capilal numa escola de samba do inferno, pra tentar enganar o pai eterno e dar voz novamente ao berimbau. E deus, que tá além do bem, do mal... caiu, onipresente, na gandaia! Abençoou a lança, a minisaia... e, no barro, forjou o Carnaval. Demo botou as roupas no varal e caiu na folia, sorridente, de sandália de ouro e de tridente a rebolar o rabo e coisa e tal... Deus fez do paraíso o seu quintal! Deixou passar o bloco livremente: adão e eva, a comissão de frente... o engove, a cerveja, o sonrisal... E, pra comemorar o grã final, deu asas pra adão e pra serpente. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 10/02/2018
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